ISBN-13: 9781492707066 / Portugalski / Miękka / 2013 / 374 str.
A obra poetica de Coelho de Sousa tem caracteristicas singulares. Alguma tem um tom coloquial e intimista voltada para os seus dramas pessoais, no choque entre a sua fina sensibilidade, as opcoes religiosas de fundo e as suas incertezas de realizacao e sublimacao. E uma permanente busca de superacao dos limites humanos, da sua debilidade e limitacoes pessoais e a exigencia da transcendencia de um ideal que o orienta, que aponta um destino final, mas nao lhe da conforto e certezas inabalaveis para o choque e o confronto com a realidade humana e social. O que se traduz por uma poesia angustiada e atormentada. Um exemplo: Ja cai de maduro o fruto da vida que trago em mim e sou o que sou assim misterio ou enigma seguro na teia do tempo com asas de vento e olhos de fogo em que me procuro. A outra face da sua poetica e aquela que brota do seu profundo e vital enraizamento na sua sociedade, na sua cultura e no seu povo. Nascido e vivendo no meio do povo, participa e exprime poeticamente as suas alegrias e tristezas. Canta o povo terceirense e acoriano e as suas tradicoes, usos e vivencias. Um exemplo: Gentes do campo em descanso Couves ao lume para a ceia... Como e belo, como e manso O fim do dia na aldeia. Este profundo enraizamento no povo e suas manifestacoes artisticas da-lhe oportunidade de um outro tipo de poesia, que tem o tom, a leveza, a simplicidade do melhor que se escreveu em quadras de gosto popular. Atirei pedras ao mar Sem o mar me fazer mal Quanto mais pedras atiro Mais o mar se fica igual. Quantas pedras atirei Todas se foram ao fundo. So nao lhes posso atirar Pedras que me atira o mundo... Neste jogo de pedrada Cada pedra cai na agua. Umas caem sobre o mar Outras nas ondas da magoa. Poesia da transcendencia. Poesia da imanencia. Poesia das vivencias pessoais. Poesia das vivencias colectivas. Poesia. Sempre poesia. Outras duas tematicas centrais na poesia de Coelho de Sousa, sao o mar e ilha. Vive poeticamente a sua condicao de ilheu, nestas duas dimensoes indissociaveis. Ao mar, dedica tres conjuntos de poemas para falar e cantar, o mar-saudade, o mar-espelho e o mar e a dor. Tens um segredo qualquer Que me queres revelar Qual seja podes dizer Que o guardarei, lindo mar. Quanto a ilha, ela assumira duas dimensoes na poesia de Coelho de Sousa: A ilha fisica, em que ele geograficamente vive, e a ilha mitica do amor-por-vir. Palmo a palmo, passo a passo Desde o vale ate a serra, Vou por essa ilha fora dar a volta a minha terra. Quanto a ilha mitica, projeccao dos seus anseios e aspiracoes, ele dira, a encerrar um poema: Importa conquistar a liberdade... E sobre o mar ha-de surgir a ilha do amor por vir, alegre e sem horror. Aqui unem-se os dois temas: a ilha e o mar. Nao uma ilha qualquer, mas a ilha-do-amor- por-vir. Nao um mar qualquer, mas um mar" alegre e sem horror." Ainda mais um breve referencia a duas dimensoes e enquadramentos da poesia de Coelho de Sousa. Coelho de Sousa e tambem o poeta da condicao humana e o poeta da condicao crista e da poesia religiosa. Exemplos ao acaso: Que a todos chegue a ventura Toda a boca tenha pao, Toda a nudez cobertura, Toda a dor consolacao... E este outro: Cada manha que se rasga Na claridade do sol, E um canto de alegria No canto do rouxinol No trinar da cotovia. Quanto a condicao crista, um exemplo: E fiz que o tempo as maos pusesse ao pe de um berco.. Os anjos em redor rezaram como irmaos. E eu fiquei, no teu divino amor, imerso. Exemplo da poesia dos temas religiosos: Tu sabes bem que e verdade: Longe de Deus, a vida e nada E todos temos saudade da felicidade passada Que nao ha frutos sem sol, Nem dia sem arrebol Que a noite e feia sem lua E a vida assim nao e tua. Esta visao sumaria e resumida da poesia de Coelho de Sousa permite-nos dizer que nele, o humano demasiado humano conviveu poeticamente com o divino, demasiado divino."